10.5.11

A minha avó Rosa...




A minha avó Rosa, mãe da minha mãe, foi uma das pessoas mais amorosas, tolerantes, discretas e doces que já conheci na vida, nunca pedindo nada em troca, nunca querendo incomodar os outros mas sempre cuidando deles.
Basicamente fui criada por ela, já que deixou de trabalhar para tomar conta de mim, nunca andei em creches. Foi de certeza a pessoa que mais mimo me deu na vida.
Contava deliciosas histórias da família, que infelizmente muitas já esqueci, da minha mãe e tios em pequenos, da família dela, do modo de vida rural em Portugal durante o século XX …deixou-me sempre no imaginário uma quinta ribatejana farta, que o meu bisavô feitor cuidava, poço de rigor e honestidade, e ainda um avô apaixonado por cavalos (apesar de pobre, endividando-se para comprar um). Raramente me contava coisas tristes, embora tenha passado muito depois de ter casado, dava sempre um ar calmo, que estava sempre tudo bem.
Tenho a imagem dela na sua máquina de costura, ou a “apassajar” meias. Fazia tudo muito perfeitinho, não saio mesmo a ela nestas coisas. Tentou ensinar-me aqueles pontos todos (cruz, cadeia, pé-de-flor) mas não ficou cá nada, infelizmente.
Tomava banho com sabão azul e branco, inclusive o cabelo que depois passava com vinagre para lhe dar brilho, e o cabelo estava sempre realmente muito bonito. Dava rebuçados e chocolates aos miúdos da vizinhança…que por isso tinham também um grande carinho por ela. Passávamos tardes inteiras a jogar às cartas, e ainda hoje há um jogo que às vezes penso que foi inventado por ela porque, tirando na minha família, nunca encontro ninguém que o saiba jogar.
Ela tomava ainda conta de uma casa particular lá na terra, que os donos viviam em Lisboa, com um enorme jardim e horta, onde a minha avó cuidava de tudo, regava, plantava, cavava, havia sempre fruta, legumes e flores, aí me fartei de brincar, lembro-me de fazer bolinhos de terra e os embrulhar nos lenços da minha avó (raramente me ralhava). Sempre a vi muito com esta ligação à natureza.
Como acontece muitas vezes, hoje deu-me saudades da minha avó.

3 comentários:

Joana disse...

deve ser bom ter recordações dessas de uma avó... infelizmente, eu não tenho! :S

Feridas disse...

A tua avó morava na Casa Açores?

Deriva disse...

Não, mas trabalhava lá, passava lá os dias. Os meus avós foram durante muitos anos caseiros na Casa Açores mas viviam ao pé da Tilita.